Como reduzir o consumo de combustível da frota (parte 2/2)
Este artigo é a continuação da parte 1. Caso você já tenha lido, vamos recapitular os principais pontos rapidamente antes de dar sequência no texto.
Você viu sobre como a alta do Diesel impacta o mercado de transportes, a dimensão dos gastos acumulados com combustível e a importância de se controlar seu consumo. Com isso, a eficiência energética é o foco na busca pela redução do consumo de combustível.
São 3 os fatores principais que você deve se atentar para aumentar a eficiência energética da frota. São eles: humano, gerencial e mecânico.
O fator humano é observado através da capacitação dos motoristas, com sistemas de direção eficientes, encontradas dentro do conceito Eco-driving. De posse desse conhecimento, o motorista passa a ser um piloto, como no transporte aéreo ou nas corridas de carros: um condutor altamente treinado e especializado.
A seguir, você verá a continuação dessas dicas práticas que podem ser aplicadas na sua Frota de veículos para melhorar o controle de consumo de combustível.
2. Fator gerencial
GESTÃO E TECNOLOGIA
O desenvolvimento de novas tecnologias para o controle do consumo de combustíveis e emissão de poluentes se concentrava nos laboratórios das montadoras e das empresas da cadeia automobilística e se aplicavam essencialmente aos veículos novos.
Atualmente isso vem mudando e hoje existem amplas possibilidades de desenvolvimento de tecnologias aplicáveis aos veículos em operação.
Se aplicadas, podem gerar o empoderamento da sua Transportadora, que pode até já dispor de inteligência embarcada, porém não realiza gestão para o aumento da eficiência energética dos caminhões.
O motivo é que talvez você desconheça as reais possibilidades de utilização desses recursos, que hoje são vistos muito mais como centros de despesas do que como ferramentas para vantagem competitiva.
TELEMETRIA
Somente instalar equipamentos nos veículos e softwares de rastreamento e localizadores nas empresas e cargas não resultam nas soluções desejadas. Se faz necessária uma adaptação dos processos internos à nova realidade da empresa.
No Brasil, as empresas de transporte de cargas, em muitos casos, também atuam como operadores logísticos. Isso envolve infraestrutura de equipamentos, pessoal e processos diferenciados, que devem ser levados em conta nas análises anteriores à escolha do sistema a ser implantado.
Hoje temos sistemas de telemetria no mercado que além de possibilitar a localização e identificação do veículo, possibilita um controle completo sobre diversos itens relacionados ao veículo e ao motorista.
Tempo de frenagem, tempo de utilização da embreagem, velocidade média, velocidade por trecho, identifica se a pista em questão está seca ou molhada, rotação e temperatura do motor, falha no sistema de injeção, distância percorrida, tempo de parada e outros itens relacionados ao motorista, como o tempo de condução, por exemplo.
CRUZAMENTO E ANÁLISE DE DADOS
O cruzamento e a análise de dados é a grande chave para o bom aproveitamento dos sistemas de telemetria.
Ter a informação de posicionamento (coordenadas) de forma precisa no receptor (instalado em um veículo) não é o bastante. Você precisa transmitir essa e outras informações coletadas por diferentes sensores (velocidade, temperatura, etc.) para uma central de monitoramento ou um sistema de gerenciamento, onde você terá todos os dados reunidos para tomar as melhores decisões baseadas nessas informações.
O fato de o mercado de transportes brasileiro passar por um período de renovação dos executivos, em que os profissionais estão aprendendo a utilizar a tecnologia da informação para elaborar soluções logísticas cada vez mais customizadas para seus clientes, facilita o processo de implantação dessa tecnologia.
→ Elabore rotas levando em consideração as informações coletadas e que estão inseridas no sistema: qual rota consumiu menos combustível?
→ Qual trecho exige menos esforço físico do motorista? Isso fará com que ele pilote mais tranquilamente, tenha menos desgaste físico e mental, podendo focar a direção na eficiência energética do veículo.
→ Qual padrão de direção resultou em menos consumo no trecho ‘X’?
Com esses e outros cruzamentos de dados que a tecnologia permite, você pode identificar os melhores trechos a serem percorridos a fim de preservar tanto a saúde do piloto quanto o veículo.
Pode também identificar os melhores comportamentos de direção para cada trecho para instruir sua equipe de motoristas.
Ressalto: você deve coletar as informações que o veículo gera, se possível, com a ajuda de um sistema de telemetria e transferí-las para um sistema de controle gerencial da frota que seria um sistema mais amplo, permitindo acesso à relatórios com todas as informações pertinentes à cada setor da frota.
3. Fator Mecânico
MELHORIA MECÂNICA
Sua empresa precisa de caminhões. Estes por sua vez, precisam ser renovados, segundo o modelo de vida econômica, a cada 5 anos, considerando uma depreciação de 20% ao ano.
Como os investimentos para melhoria e inovação tecnológica são altos, há uma inibição do alcance das novas tecnologias para veículos já em operação – é o exemplo dos motores capazes de utilizar os combustíveis com baixo teor de enxofre, recentemente disponibilizados ao transportador nacional, mas que ainda convivem com veículos antigos e que não absorveram essa tecnologia.
Isso obriga os postos de combustível a oferecerem tanto combustível com baixo teor de enxofre quanto o combustível com tecnologia antiga.
O resultado é o aumento no custo dos postos, devido à manutenção de diferentes itens em estoque, que é repassado ao valor dos combustíveis. Ou seja, a barreira a entrada da tecnologia nos veículos em serviço acaba contaminando os preços dos insumos para todo o setor.
Essa é apenas uma das variáveis para o alto preço do combustível no país. Veja então, duas dicas de melhoria mecânica que podem ser aplicadas nos veículos da sua frota para melhorar sua eficiência energética, consumindo assim, menos combustível.
ADIÇÃO DE TORQUE
Tanto para o caminhão com transmissão automática ou manual, a redução de marcha é necessária em aclive. No instante da mudança de marchas, o veículo fica sob a ação da gravidade e sem força de empuxo, pois, neste momento, a transmissão de força do motor para as rodas é interrompida na caixa de mudanças.
Esses fatores somados proporcionam o aumento no consumo de combustível. A adição de torque tem amparo legal garantido pela Resolução 291/08 e 292/08 do Contran. Essa ação dá mais força ao motor para vencer essas barreiras nos momentos mais críticos de consumo de energia e também proporciona redução na quantidade de trocas de marchas durante a travessia de aclives, o que diminui o tempo de viagem e o desgaste físico do motorista.
REMAPEAMENTO DE MOTOR
O remapeamento de motores é uma técnica já amplamente difundida no mercado de serviços de transporte, sendo sua aplicação realizada de duas maneiras. A primeira consiste em retirar o módulo eletrônico do veículo, chamado de ECU (Eletronic Central Unit), e substituir o chip que contém as instruções de gerenciamento eletrônico de combustível, utilizado pela central de injeção.
Esse procedimento, embora apresente custos menores, pois o instalador apenas coloca um chip ‘de prateleira’ para aumentar a potência do caminhão, muitas vezes também aumenta o consumo de combustível, pois não oferece uma solução customizada dentro das reais necessidades do transportador.
Além disso, o remapeamento feito dessa forma e sem controle permite ao motorista usá-lo apenas para melhorar o desempenho motor, sem preocupação com o desempenho energético.
A outra possibilidade de remapeamento, mais moderna, é realizada por meio de aparelhos que se comunicam com a ECU (Eletronic Central Unit) do caminhão, por meio da porta de diagnóstico, ou o barramento CAN (Controller Area Network), um protocolo de comunicação.
Assim, conectado por um chicote, o equipamento de leitura e gravação pode ler e alterar os mapas de torque configurados na ECU sem necessidade de troca de chips.
Outra grande possibilidade deste procedimento é alterar o torque de acordo com as necessidades do transportador. Tal possibilidade, com diversos mapas de torque/potência, já é uma realidade em carros de passeio de marcas de luxo.
Também há algumas propostas de modelos que oferecem várias possibilidades de condução, com desempenhos diferentes como normal, econômico, esporte, etc.
Não há, ainda, tecnologia embarcada que permita a realização desse mesmo procedimento de marcação por GPS nas condições de operação do motor, para que futuramente ele possa ‘se adaptar’ às condições do terreno, visando a reduzir o consumo de combustível.
Porém, você pode analisar a rota e realizar os ajustes necessários nos motores para determinada rota e medir os resultados.
Vale ressaltar que todos esses procedimentos não surtem efeito se o caminhão não for operado segundo os preceitos da condução eficiente.
Ganhos
Econômicos: ao reduzir despesas com abastecimento, você aumenta as margens de lucro da empresa e com isso aumenta sua saúde financeira.
Essa obtenção pode colaborar para sua sobrevivência, enquanto empresa, em um mercado altamente competitivo e ser utilizada como ferramenta competitiva de diferenciação.
Sociais: desenvolve a ferramenta humana do setor, por meio de treinamento e capacitação, em técnicas avançadas de condução
É uma pequena contribuição para a criação da mentalidade de profissionalização dos motoristas do setor de transporte.
Ambientais e de saúde: diminuindo o consumo de combustível é diminuir diretamente a emissão de poluentes, nocivos ao meio ambiente e à saúde humana.
Ao se reduzir a emissão de gases tóxicos provenientes da queima de combustível fóssil e de material particulado, os efeitos danosos provocados por eles à qualidade do ar também são reduzidos.
A capacitação avançada de motoristas, o remapeamento da potência dos motores e a tecnologia a serviço da gestão podem aumentar a eficiência energética da sua frota. O que contribui para um maior controle e redução de consumo de combustível.
Não deixe de fazer o download do Guia Prático para Controle de Consumo de Combustível logo abaixo, assim você pode salvar em seu pc todas as informações reunidas em um só lugar e ter acesso sempre que precisar.
Principal Fonte: Artigo acadêmico de Jurandi da Silva Arruda Júnior (CONTRAN).