Como reduzir o consumo de combustível da frota (parte 1/2)
Reduzir custos com combustível é essencial para sobrevivência no mercado
• "A Frota está dando mais custos do que lucro."
• "A situação está complicada."
• "O Frete está defasado."
Provavelmente você já ouviu alguma dessas frases ou até mesmo falou alguma nos últimos meses. O fato é que muitas Transportadoras no Brasil estão atravessando um momento muito delicado e que pode ter consequências graves, em casos de empresas com uma gestão fraca.
Para reduzir custos e minimizar rotas, as empresas transportadoras terceirizam o serviço para transportadores autônomos, que praticam preços abaixo do considerado recomendável sob a ótica econômico-financeira. Talvez esse seja o seu caso.
As baixas receitas oriundas desses fretes resultam em problemas de manutenção veicular, jornadas de trabalho excessivas, sobrecarga nos veículos, incapacidade de renovação da frota, aumento da idade média da frota, inadimplência fiscal e, consequentemente, em diversos impactos para a sociedade, no que pode ser chamado de círculo vicioso do transporte de cargas no Brasil.
Alguns dos impactos gerados são: o aumento no índice de acidentes, a emissão excessiva de poluentes, engarrafamentos e mais consumo de combustível.
Agora, veja só que interessante, um estudo do Centro de Estudos em Logística (CEL), em parceria com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) demonstrou que ao compararmos o TRC Brasileiro em termos de produtividade da mão de obra empregada com o setor norte americano, o Brasil alcança apenas 22% da produtividade alcançada naquele país.
O impacto da alta do diesel
E não para por aí, ainda temos a alta do combustível. Veja um rápido cálculo demonstrando o impacto de um aumento de 15 centavos no litro do Diesel.
Uma frota de 20 veículos percorre o equivalente a 1,9 mi de quilômetros no ano, ou seja, um custo de aproximadamente R$ 1,71 mi em combustível no ano.
Com um amento de R$ 0,15 no valor do diesel, esse valor subiria para R$ 1,805 mi. Uma diferença considerável de R$ 95.000 ou 5,5%em cima de um custo que representa quase 40% do valor do frete.
*Média de 8 mil quilômetros mensais por veículo. / Consumo médio de 3km/litro. / Preço do litro do diesel: R$ 2,70/ R$ 2,85.
O que temos então é a soma de uma baixa produtividade e o impacto da alta nos combustíveis cujo o resultado é a ineficiência e a baixa competitividade das empresas de Transporte Rodoviário de Cargas no país.
Somente o item combustível, por exemplo, responde por 38% dos custos de frete, que, embora há quem acredite que sejam repassados para o contratante do serviço, sabemos que a realidade é outra e as Transportadoras acabam por absorver mais esse impacto.
Portanto se faz necessário um controle apurado do consumo de combustível, visando melhorar o desempenho do veículo e sua eficiência energética para reduzir os gastos com esse item indispensável para o transporte, o combustível.
O entendimento é simples: o veículo precisa de energia para se locomover e essa energia é gerada por meio da combustão, portanto, quanto menos combustível consumir, mais eficiência energética terá.
Eficiência energética
O foco então é alcançar eficiência energética da frota com fins de redução de custo com combustível e para isso vou apresentar algumas medidas para você.
Essas medidas se dividem em três pontos estratégicos ou três fatores: humano, mecânico e gerencial. Veja a seguir como controlar o consumo de combustível e melhorar a eficiência energética de sua frota.
1. Fator Humano
- CAPACITAÇÃO DOS MOTORISTAS
Promova ações, palestras, eventos e cursos para a qualificação do motorista, de forma a aumentar a conscientização quanto à importância de seu desenvolvimento profissional para a redução do consumo de combustível.
É importante lembrar que não são apenas fatores técnicos que interferem no desempenho energético dos veículos. Aspectos como o modo de condução, o tipo e estado de conservação das vias e dos veículos, a velocidade operacional baixa, etc. exercem um papel fundamental no resultado do desempenho energético da frota.
A eficiência energética é uma prioridade da política de crescimento para muitos países ao redor do mundo e deveria ser para você também.
É amplamente reconhecida como uma das soluções disponíveis para enfrentar inúmeras questões relacionadas à energia, incluindo segurança energética, social e econômica.
Ao mesmo tempo, a eficiência energética aumenta a competitividade e promove o bem-estar do consumidor.
Conceitos importantes para a gestão consciente de combustível na operação não são repassados nem exigidos dos motoristas de transporte brasileiro, como conservação da energia, recuperação da energia, grandezas físicas aplicadas ao movimento, dentre outros entendimentos conceituais com aplicação prática ao trabalho de transporte.
Aplique esses conceitos e cobre de seus motoristas. Está na hora de ser uma Transportadora de alto nível. Não veja o profissional como um mal necessário ou mão de obra dispendiosa, mas engaje-o e valorize seu papel no alcance das metas organizacionais.
- SISTEMAS DE DIREÇÃO
Veja abaixo, os sistemas de direção mais difundidos em grandes países quando se trata de economia de combustível. Estes sistemas de direção fazem parte do conceito Eco-driving.
Veja a explicação de cada sistema e sua aplicação em território nacional.
• Driving Without Brakes (DWB)
Algo como dirigir sem frear. Esta técnica é bastante simples: sugere que o condutor dirija como se não tivesse os freios de serviço à disposição, utilizando somente o freio motor.
O ato de frear é a atividade energética economicamente mais onerosa na condução de qualquer veículo terrestre.
NO BRASIL: é importante destacar que esta técnica é bem diferente da tradicional "banguela", comum no modo de condução dos motoristas brasileiros.
O motorista assume a banguela para frear no fim do movimento, sem o empuxo do motor. Essa situação, além de consumir combustível, ainda gera um maior desgaste das pastilhas de freio (freio de serviço), onde normalmente se deveria usar o freio motor.
• Stop and Crawl
Algo como parar e rastrear. Esta técnica diz que diminuir a velocidade, seja freando ou apenas desacelerando, é melhor do que retardar a freada.
É mais econômico frear antecipadamente e prosseguir em uma velocidade menor para, em seguida, acelerar novamente (sempre evitando a parada completa).
NO BRASIL: o problema que deve ser observado durante o uso desta técnica é que, ao se manter em uma velocidade mais adequada sob o ponto de vista da eficiência energética, outros motoristas podem se colocar imediatamente à frente do veículo que utiliza a técnica, forçando-o a frear para garantir uma distância segura e não respeitando, portanto, a conservação da energia, que se apresenta nas velocidades de cruzeiro. Contudo, precavendo-se desse risco, a técnica tem boa utilização.
• Idling Minimization
Algo como minimização da marcha lenta. O pressuposto de desenvolvimento desta técnica é minimizar o tempo em que o motor está produzindo energia que não se efetiva em movimento devido ao fato de o veículo estar parado; assim, há menos desperdício de combustível.
Isso acontece nos momentos em que o veículo está em ponto morto (caixa de mudanças em neutro). Ao desligar o motor ou diminuir a potência produzida, o consumo total é reduzido.
NO BRASIL: os semáforos normalmente são temporizados; os condutores podem se adaptar aos tempos do sinal para desligar o motor o maior tempo possível e, assim, economizar combustível.
Porém, esta aplicação não funciona em caso de vias congestionadas ou retenções, que tem tempo de parada indefinido.
• Traffic Light Timing
Algo como tempo de semáforo. Mais adequada em ambientes urbanos, esta técnica é simples, mas eficiente. Consiste em se adaptar aos tempos de sinal verde dos semáforos para minimizar os tempos de parada e de frenagem.
NO BRASIL: a técnica não apresenta variação quanto à sua utilização em território nacional.
• Blocker
Algo como bloqueador. Muitos motoristas têm dificuldades em se manter em baixas velocidades e assumir técnicas de condução econômicas de direção.
Portanto, visando minimizar os efeitos negativos do estilo de condução culturalmente disseminados de acelerar e diminuir bruscamente logo à frente, esta técnica consiste em fixar um outro automóvel se movendo a uma velocidade desejável e constante e se posicionar ligeiramente atrás ou logo à frente, como se os dois veículos formassem um comboio.
Isso não causa efeito direto no consumo, pois é necessário manter a distância de segurança, mas acalma o motorista, pois faz com que ele, ao deixar de conduzir de maneira agressiva, dirija de maneira mais econômica.
NO BRASIL: a técnica não apresenta variação quanto à sua utilização em território nacional.
• Racing Line
Muito utilizada nos circuitos de corrida, sua utilidade para menor consumo pode ser transferida para as rodovias.
Seu princípio consiste em fazer curvas na maior velocidade possível, respeitando os preceitos de segurança, para que a frenagem seja mínima e a velocidade, estendida ao máximo possível, diminuindo os efeitos negativos em termos de energia e redução de velocidade.
NO BRASIL: de todas as técnicas, esta é a que possui as maiores restrições. Ao aumentar a velocidade em curvas, o veículo pode ser surpreendido pela ação da força centrífuga e, assim, sair pela tangente da curva, ocasionando acidentes.
Além disso, a poluição visual e invasão das faixas de domínio nas rodovias prejudica a utilização desta técnica.
EQUIPE DE PILOTOS
O conceito Eco-driving é mais uma tática ou estratégia do que um modo operacional, porém ele traz uma grande contribuição de ideias sobre o tema.
Para o treinamento de motoristas, a técnica de condução eficiente se faz valer das formas descritas acima. Assim, o veículo é operado nas condições adequadas em função do terreno por onde passam as rotas de transporte.
De posse desse conhecimento, o motorista passa a ser um piloto, como no transporte aéreo ou nas corridas de carros: um condutor altamente treinado e especializado.
No próximo artigo, você vai ver dentro dos fatores gerencial e mecânico quais medidas podem ser tomadas para melhorar a eficiência energética do veículo com a finalidade de redução de consumo de combustíveis.
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